terça-feira, 15 de maio de 2007

Vale do Ave

Para quem não conhece a Vila das Aves, a localidade fica do lado de lá de Delães.
Digamos assim: uma espécie de Almada se a minha aldeia natal fosse a capital e o Ave fosse o Tejo.
Bem, para mim até é como se fossem. Ainda que viva na capital do ex-império, a aldeia pátria e o rio multicolor continuam sempre cá dentro. Todos sentimos estas coisas. Até aqui nada que force alguém a comentar este post muito menos quem já jurou nunca mais comentar.

Acontece que a aldeia não é só a primeira pátria de "moi meme", é-a também de Quim, o redes do Benfica.

Conto-vos em primeiro-mão, se bem que nunca percebi esta força de expressão, primeira-mão. Utilizo então outra que mais aprecio. Conto-vos com o pé-de-dentro, que desde muito cedo senti-me predestinado para sentenciar o futuro do futebol português. E não estou forçosamente a falar dos artigos neste blog, referência nacional.

Durante as futeboladas de sábado à tarde, no parque desportivo, o actual 12 do Benfica era apenas um puto sem qualquer visão quanto ao seu futuro na sociedade rural, já eu fazia lobby para o pormos à baliza. Era numa de não estorvar, mas o puto ganhou-lhe o gosto. Jogávamos horas infinitas enquanto o resto da aldeia, vivia a vidinha de sempre, odiando os vizinhos do lado de lá da margem dum rio poluído, ora azul, ora vermelho, ora raramente verde.

Graças a esse meu/nosso lobby bem sucedido, este fim-de-semana a aldeia vai estar dividida. Mais do que isso, acho, vai estar esfrangalhada!

Uns não querem que o Benfica perca porque o Quim ainda tem de ganhar mais uns cobres na capital e investir uns trocos na construção civil da aldeia. Outros querem que o Porto ganhe porque respeitam e veneram o Balázio. Exagero, estava só a falar do respeito que a minha família me dispensa! Mas então, esses e estes, querem que a invicta ganhe porque estamos em maioria de adeptos.

Enquanto isso, todos, mas todos querem que o Desportivo perca porque aqueles filhos-da-mãe não merecem ser uma vila quanto mais ser uma vila com um clube na primeira divisão. Isto parece uma coisa de malucos. Fomos roubados já nos tempos da outra senhora. Espoliados pelas arbitragens manipuladas pelos industriais da margem sul.

Se o meu progenitor, que funciona para estes dilemas como o cúmulo dos cúmulos (é Delanense, foi o primeiro presidente da colectividade, admira o Quim, é portista, tem Neca como nome abreviado e foi jogador do Aves), quer que o FCP ganhe... então que ganhe o FCP.

Se ele quer...quem sou eu para contrariar uma pessoa que me merece todo o amor de filho? Tirando a vez que ele me disse para não pegar no carro aos 15 anos, nunca na vida o contrariei. E por isso não vai ser desta.

Ah, já me esquecia. Na aldeia não há sportinguistas. Quando aparecem vão a banhos no rio. Das poucas vezes que ele ia verde, todos sabíamos a razão.

Neste fim-de-semana, e pela última vez, o rio vai chegar à foz poluído. Vai chegar pintado de azul tripeiro.


2 comentários:

PeDraGon disse...

Excelente Post, Balázio.
Só é pena a tua veia narrativa não merecer mais comentários alheios.
Será da clubíte agúda? ;)

Filipe Pereira disse...

As tuas palavras vieram quebrar o silêncio doloroso dos que por aqui passam. Sinto uma aragem estranha neste post! Deve ser da porta aberta. Os lagartos entram apressados e saiem a correr. As águias essas já andam ligeiramente engripadas. São os ventos, amigo. São as nortadas.