Recebi o seguinte texto (longo, mas esclarecedor) por mail:
"A propósito do envolvimento do Sr. Lima de Carvalho na embrulhada da Universidade Independente, emitiu ontem o Sporting um comunicado com o qual pretende esclarecer a intervenção do dito indivíduo no negócio de venda do património imobiliário não desportivo (comunicado aqui).
Nele se informa que, no âmbito desse negócio, o Sporting pagou a duas empresas a quantia de 1.809.459,00€, correspondentes a 3,55% do valor total da venda (diga-se desde já que se trata de um valor superior aos corriqueiros 3%, mas que não pode ser considerado exorbitante num negócio desta natureza). Interessante seria também saber se este valor incluía IVA (se não, há que somar-lhe cerca de 380 mil euros).
E o dinheiro serviu para pagar o quê? Pois bem, à “Silfiducia”, os serviços de mediação imobiliária que terá prestado; à “Dignidade & Firmeza”, os serviços de consultoria de gestão financeira e desenvolvimento de estudos de mercado. Comecemos pela primeira.
A “Silfiducia” é uma conhecida empresa de mediação imobiliária. Mas como pertence ao mesmo grupo que a “Silcoge”, que juntamente com o Deutsche Bank adquiriu o património, fica por saber que raio de serviços de mediação terá prestado, para mais num negócio tão antecipada e prolongadamente apregoado. É um pouco como eu comprar um apartamento directamente a um particular, mas como sou dono de uma imobiliária, aproveitar para lhe cobrar comissão. Mas adiante.
Vamos então deter-nos nos pomposamente designados serviços de “consultoria de gestão financeira e desenvolvimento de estudos de mercado” que justificaram a maquia que a “Dignidade & Firmeza”, da esposa do Sr. Lima de Carvalho, veio a embolsar.
“Dignidade & Firmeza”? Que nome estranho é este? Será o resultado de um peculiar sentido de humor, atentos os desenvolvimentos recentes do caso UnI? Será apenas uma designação muito foleira, a fazer lembrar um estabelecimento comercial dos anos 50? Não, meus amigos. “Dignidade & Firmeza” era uma das designações pré-aprovadas para a constituição das chamadas “Empresas na Hora”, aquelas em que basta aparecer na Conservatória e perder uns minutinhos, para saír de lá com uma sociedade constituída (para uma lista actualizada de designações pré-aprovadas - e não menos foleiras - consultar aqui ).
Pois o caso é mesmo esse. A “Dignidade & Firmeza - Unipessoal, Lda. ” foi constituída, através do processo “na hora”, no passado dia 19 de Dezembro de 2006. Tem a forma de sociedade unipessoal por quotas, com o capital social de 5.000,00€, e é sua sócia única a Sra. D. Maria Luísa Barros dos Santos Carvalho, casada com o Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho, tendo aquela ficado desde logo nomeada gerente. O seu objecto social consiste, como não podia deixar de ser, em “consultoria de gestão financeira e estudos de mercado, no sector imobiliário” (queiram fazer o favor de confirmar tudo aqui e aqui).
Afortunada empresa, a da Sra. D. Maria Luísa Carvalho. Modestamente nascida com o capital social mínimo exigido por lei e adoptando uma estrutura jurídica própria das microempresas, com uns estatutos cuja minuta se pode descarregar da net, logo que foi constituída teve ocasião de prestar os seus reputados serviços de consultoria no mais mediático negócio imobiliário do ano. "Logo que foi constituída"? Reformulo: antes mesmo de se constituir.
É que a proposta da Silcoge/Deutsche Bank foi aprovada numa sessão do Conselho Leonino que teve lugar no dia 16 de Novembro de 2006, ou seja, mais de um mês antes de a "Dignidade & Firmeza" sequer existir. É caso para dizer que a jovem empresa fez jus à oportunidade, porque o seu sucesso foi precoce, meteórico e retumbante. Tanto consultou, tanto estudou, que mais de um mês antes de estar constituída já havia colaborado na obtenção de uma proposta de compra firme, e logo em 15 de Janeiro de 2007, menos de um mês depois de entrar em actividade, conseguiu que se realizasse a escritura pública de compra e venda daquele mega-negócio, no valor de 50.972.944,00€.
Está assim finalmente esclarecida a intervenção do Sr. Lima de Carvalho no negócio. Não foi nenhuma. Não passava, afinal, do consorte de uma recente mas promissora consultora imobiliária, ao comando de uma pequena mas auspiciosa empresa.
Veremos agora se a nova gerência da empresa conseguirá manter tão virtuoso rumo. Sim, porque no passado dia 7 de Março de 2007 a Sra. D. Maria Luísa deixou mais pobre o mundo da consultoria de gestão financeira e estudos de mercado, sendo - agora sim - substituída na gerência da “Dignidade & Firmeza” pelo nosso conhecido Sr.... Amadeu Augusto Lima de Carvalho (aqui), que entre consultoria, advocacia, reuniões da SIDES, viagens a Angola e agora prisão preventiva, é capaz de ficar com pouco tempo para usufruir do camarote que passou a deter no Estádio José Alvalade.
A que título recebeu este camarote? Não terá sido certamente no âmbito do negócio, uma vez que nenhuma intervenção teve nele. Quiçá tenha sido a esposa que lho ofereceu.
Por fim, é de notar que, do valor total, 800 mil euros terão sido pagos mediante a entrega de 400 mil acções da Sporting SAD. O engraçado é que nos últimos seis meses a cotação das acções nunca caiu abaixo dos 2,52€ (confirmar aqui), e que nos primeiros dias de 2007, por alturas da conclusão do negócio, andaram permanentemente acima dos 2,65€ (aqui).
Neste último link pode verificar-se que, a 15 de Janeiro de 2007, data da outorga da escritura, as acções da Sporting SAD valiam 2,68€. Ou seja, admitindo que o Sr. Amadeu Augusto Lima de Carvalho as tenha recebido nessa data (ou antes, a Sra. D. Maria Luísa, porque ele não teve nada a ver com o assunto), as 400 mil acções valiam então 1.072.000,00€. Acima dos 800 mil que se destinavam a pagar, mas coisa pouca, apenas uns frugais 272 mil euros, pequenito acréscimo de 34%.
Como sempre, cantando e rindo, 75% na paz do Senhor."
Parabéns ao autor do texto!
2 comentários:
Consigo perceber a frustração que estas coisas trazem a um clube tão ecléctico e honesto. Pelo menos aparentemente. Sinto-me mais bem servido com um clube aparentemente corrupto mas que ninguém consegue provar! Amanhem-se.
alguém vai já vendeu a casa para eu abrir uma imobiliária e cobrar comissão?
ok até pode nem ser casa, basta que vendam qualquer coisa que eu abro já uma empresa e cobro comissão pós venda, que vos parece?
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