quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O terramoto

Numa inusitada incursão pela geologia e sismologia, um pasquim da nossa praça conta que os golos festejados no estádio do Nápoles têm o efeito de um pequeno sismo. Como hoje andei a cheirar pelos corredores da faculdade, vim infectado com essa maleita tremenda que é cabotinismo (contrataram-me, aturem-me). Vai daí lembrei-me de outro famoso terramoto napolitano. Foi em 64 d.C. ou 66 d.C (não há certezas), e o imperador Nero estava a dar um espectáculo de canto lírico no anfiteatro de Nápoles, ali à beira de Pompeios e do Vesúvio. Este, depois de dar sinal inequívoco com o enorme terramoto de 62 d.C., continuava a arrotar com frequência, perante a suicida indiferença de pompeianos e vizinhos. Um desses tremendos arrotos deu-se, portanto, em 64/66 d.C., por ocasião da visita do imperador Nero à cidade de Nápoles. Dizem as más línguas que Nero compunha mal e cantava ainda pior (embora testemunhos mais imparciais nos permitam saber que o rapaz afinal nem escrevia nada mal). As línguas viperinas da época contam até casos de homens que se fingiam de mortos para poderem ser retirados dos anfiteatros onde Nero actuava - pois o imperador proibia que se saísse enquanto ele actuasse - bem como de mulheres que ali mesmo davam à luz, traumatizando para o resto da vida os rebentos. Ora conta a rainha da má língua, o venenoso Suetónio, que em 64 /66d.C. nem a ocorrência de um medonho ataque aerofágico do Vesúvio, traduzido num terramoto muito jeitoso, impediu Nero de levar até ao fim o espectáculo, impedindo que saísse do recinto quem quer que fosse:
«E apresentou-se pela primeira vez em Nápoles, e a verdade é que nem ocorrendo de repente um terramoto no anfiteatro parou de cantar, não antes de concluir a ária que começara.»
Suetónio, Ner., 20
Pronto, por hoje é tudo que a bateria do portátil está no fim.

P.S.: para quem não teve pachorra para ler a posta anterior, a crise aerofágica do Vesúvio teve dramático fim em meados de 79 d.C., quando se deixou de arrotos e vomitou cinza ardente sobre Pompeios, Herculano e outras pequenas povoações da área.

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