domingo, 31 de agosto de 2008

Afinfa-lhe

Talvez reagindo pavlovianamente à presença de um árbitro (salivava abundantemente, pelo menos, e reagiu a um apito, que é o mais próximo num estádio de uma campainha de laboratório), um lampião vestido num misto de bobo da corte com diabrete de Bosch abriu a porta do curral, despejou para dentro do campo a barriga pantagruélica - o resto do corpo veio atrás, arrastado pela gravidade - e empurrou o primeiro portista que lhe apareceu à frente, no caso um árbitro. Grasnou qualquer coisa que não se consegue decifrar enquanto não se achar uma pedra de Rosetta com um Champollion lampião apenso, e regressou calmamente ao seu lugar, perante a bovina pachorra da segurança, que, tal como os adeptos em volta, não deve ter achado mal nenhum na descarga bestial da criatura avermelhada. Dizem as crónicas que só à força de bastonada a turba circundante permitiu que a polícia fizesse aquilo que o mais básico sentido de civilidade e educação dita: a detenção de uma pessoa que agride outra pelas costas, ainda por cima naquelas circunstâncias (embora se dispensasse o espectáculo de termos 3 ou 4 polícias a bater num velho louco e lampião, mas ainda assim uma pessoa de idade). É tristemente revelador da falta de cultura cívica de um país. Alguém viola todas as normas de conduta entre seres humanos, agredindo pelas costas outro ser humano, e a populaça não só não acha mal como não permite que o agressor seja punido. Sic transit gloria mundi, pardon my latin.

Parece que segundo os regulamentos a coisa se fica por uma multa simbólica ao benfica, o que não me parece mal, embora me questione sobre a justiça de pagar um clube pelas cavalidades dos seus adeptos, e só o consiga compreender como forma de evitar a ocorrência de actos de vandalismo concertado. Não sei o que acontecerá à criatura agressora, pois não li os regulamentos e, convenhamos, há coisas mais interessantes para ler a um Domingo de manhã, mas num país a sério levaria uma multa pouco simbólica, e teria a entrada vedada em estádios de futebol durante um período considerável de tempo. Como isto não é um país a sério, e não tenho notícias de que tenha sido essa a punição adoptada quando algumas criaturas da Juve Leo invadiram o campo no final de um Sporting x benfica em 2004, o mais natural é que se safe com uma palmadinha nas costas na esquadra para onde foi levado (com sorte apanhou um graduado de serviço de bigodes benfiquistas), e seja recebido em alarve apoteose por uma turba extática entre gritos desdentados e bigodes enlevados. Pois é este o país que temos.

sábado, 30 de agosto de 2008

A mulher de César

Eu sei que faço sempre umas intervenções enormes, mas contrataram-me, agora aturem-me. Esta já a escrevi há uns tempos em outras paragens, mas pareceu-me adequada ao jogo desta noite, nomeadamente a um cavalheiro do Porto que vai subir ao relvado depois de o milhafre Vitória fazer o seu número de circo para a multidão embevecida.


Esta história aconteceu há coisa de 2000 anos. O pai extremoso, patrício romano, chamou-lhe Publius Claudius Pulcher, que é como quem diz Públio Cláudio Jeitoso, em bom vernáculo. Se era de facto jeitoso ou não, não faço ideia. Diz que sim, mas para o caso tanto faz. Ora o menino Jeitoso, apesar de boas famílias, decidiu fazer carreira política, tomando o partido do povo. Vai daí troca o aristocrático nome Claudius pela forma popularucha Clodius - é que os romanos educados pronunciavam Claudius como "kláudiuss", mas a populaça dizia "klódiuss". O rapaz teve algum sucesso na vida pública, conseguindo até fazer exilar o poderoso Marcus Tullius Cicero (que é como quem diz Marco Túlio Grão-de-Bico), quando foi tribuno (o Clódio Jeitoso, não o M. Túlio Grão-de-Bico).

Mas o Clódio Jeitoso teve também assinalável êxito na vida privada. Com efeito, em 62 a.C., tinha o rapaz cerca de 30 anos (idade mais do que própria para ter juízo), toca de despir a toga e enfiar um vestido de mulher. Não, não ia ao Finalmente lá do sítio, não era traveca às escondidas: ia à casa de Júlio César, onde a sua mulher (a de César, não a do Clódio Jeitoso, essa ficou mais conhecida por andar sempre de cabeça baixa) celebrava os ritos secretos da Bona Dea com o mulherio amigo. Esses rituais eram interditos aos homens. E não, o Clódio Jeitoso não queria saber como eram esses ritos, e não consta que tivesse fantasias transformistas - embora, à moda da época, provasse dos dois pratos, hábito culinário corrente no mundo antigo, até aparecerem os chatos dos cristãos e acabarem com a festança. Bom, então que fazia o Clódio Jeitoso vestido de mulher em casa de Júlio César? E recordo: não havia nenhuma festa travesti em casa de César, apesar de serem públicas as tendências efeminadas do grande conquistador da Gália. Então mas o homem não era casado?, perguntar-me-ão. Era, mas desde quando isso quer dizer alguma coisa? Esse mestre da coscuvilhice que foi Suetónio diz dele que era "uir omnium mulierum mulierque omnium uirorum" (cito de cor), que é como quem diz "homem de todas as mulheres, mulher de todos os homens".

Mas regressemos ao Clódio Jeitoso, do César falaremos noutra ocasião. Contava eu que o Jeitoso pôs uns trapinhos de mulher e foi naquela figura para a casa de Júlio César, onde a mulher deste celebrava os ritos secretos da Bona Dea, que eram só para o mulherio - a presença de homens era proibida. Mas o Clódio lá conseguiu entrar, possivelmente com as roupinhas da mana Clódia, uma das maiores cabras que Roma e o mundo conheceram, e a quem, segundo as más línguas, nem o próprio irmão escapou. Conseguiu, portanto, entrar, diz-se que com a ajudinha da escrava da mulher de César, mas uma vez lá dentro foi rapidamente desmascarado. Consta que a escrava da Aurélia, mãe de César, lhe pediu para dançar, e perante as negativas do Clódio Jeitoso Traveca, a moça insistiu, até que descobriu que era um homem que tinha à frente. Talvez o Jeitoso se tenha esquecido de fazer a depilação, ou lhe tenha caído a peruca, ou tenha tido um súbito e revelador entusiasmo, não sei.

Foi uma escandaleira das antigas, não só porque era um sacrilégio, mas sobretudo porque ao que parece o Clódio Jeitoso ia com a intenção de seduzir uma tal de Pompeia. E quem era esta rapariga? Era, nem mais nem menos, a famosa mulher de César, a tal a quem não basta ser honesta. É que César, apesar de não ter testemunhado contra o Jeitoso em tribunal pelo sacrilégio e pelo atentado ao pudor da Pompeia, disse à mulher "Filha, a porta da rua é serventia da casa", que é como quem diz "Mulher, arruma lá os teus tarecos e põe-te no olho da rua, que eu já tenho problemas que me cheguem; já não bastava andarem a dizer que quando era puto fiz de mulher do rei da Bitínia, era só o que me faltava agora tem adulto ter fama de cornudo".

Conta-se que quando lhe disseram que o repúdio da mulher e a recusa em testemunhar contra o Jeitoso equivaliam a admitir que ela andava mesmo enrolada com o dito, César respondeu que não, que disparate, que acreditava piamente na inocência da ex-mulher, mas que apesar disso preferiria que sobre ela não recaísse qualquer suspeita. Que é como quem diz "à mulher de César não basta ser honesta: tem de parecê-lo".

A que propósito vem esta fofoca com mais de 2000 anos? Vem a propósito, como já calcularam, do sr. Jorge Sousa, da Associação de Futebol do Porto, que vai arbitrar esta noite um jogo onde intervém o Futebol Clube do Porto. Até rima! Dir-me-ão que lá por a criatura ser da AFP não tem de ser necessariamente um adepto do FCP. É verdade, não tem. Pode até dar-se o caso de ser lampião, ou sportinguista, ou boavisteiro, ou arrifanense, ou coisa do género. Mas de um estigma não se livra: o de estar a arbitrar um jogo importante onde intervém um clube da sua associação.

E é aqui que entram o Clódio Jeitoso, a mulher de César e o seu bélico esposo: a quem nomeia os árbitros não lhe basta ser honesto, tem também de parecê-lo. E, convenhamos, com esta e outras nomeações do mesmo calibre - a nomeação de árbitros do Porto para jogos do FCP contra os rivais começa a ser uma tradição tão castiça como a sardinha assada no Santo António ou os distúrbios entre adeptos benfiquistas e outros adeptos benfiquistas em jogos grandes - com esta e outras nomeações do mesmo calibre, dizia eu, quem nomeia os árbitros está-se mesmo a pôr a jeito. Além de condicionar o trabalho do árbitro, que por mais honesto que seja (e eu mantenho a minha ideia de que não falta honestidade aos árbitros, falta é qualidade) carregará sempre o peso da suspeita.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Jornada 2

A jornada deste fim-de-semana engloba 2 jogos "grandes".

O Sporting desloca-se a Braga e vai encontrar uma equipa fortíssima, principalmente a jogar em casa, onde o Sporting de Paulo Bento nunca conseguiu ganhar. Será um jogo aberto, rijo e com golos! Realisticamente escrevendo, não acredito muito que o Sporting venha de lá com uma vitória, facciosamente acho que ganharemos 3-1.

No galinheiro será jogado um clássico. Aqui que o Jesualdo não me ouve, nem me lê, acho que o benfica é favorito e ganhará o jogo. O meu resultado preferido seria um empatezito num jogo com muitas expulsões, praí umas 3 para cada lado.

Enquanto que a nomeação, pela segunda vez consecutiva de um árbitro do Porto para jogos do fcporto contra equipas de Lisboa, me faz sorrir, a nomeação do Bruno Paixão para o jogo de Braga é garantia de galhofa da grande.

Bom fim-de-semana faccioso!

Convocatória

A Lista de convocados é a seguinte:

Atletico Madrid: Simão e Maniche;
Chelsea: Bosingwa, Deco, Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho;
Zenit: Danny;
FC Porto: Bruno Alves e Raúl Meireles;
Galatasaray: Fernando Meira;
Manchester United: Nani;
Glasgow Rangers: Pedro Mendes;
Real Madrid: Pepe;
Sp. Braga: Eduardo;
Benfica: Carlos Martins, Nuno Gomes e Quim;
Sporting: João Moutinho e Yannick;
Werder Bremen: Hugo Almeida;
Lecce: Antunes;
Valencia: Miguel;
Bochum: Daniel Fernandes.

As novidades são Yannick ( a estreia, e por sinal bem merecida ), Pedro Mendes e Maniche. Duda e Manuel Fernandes não repetiram a chamada anterior.

Os próximos jogos, Malta e Dinamarca ( em Alvalade ) já são a doer e para ganhar.

Como nota de rodapé, gostava que o público português arranjasse um novo cântico para não ser sempre o "Portugal Allez, Portugal Allez". Um pouco de inovação, ó faxavor.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Pote 2

Quer o Sporting que o porto ficaram no pote 2, o que indica que podem evitar alguns dos tubarões. Para o Sporting esta situação é nova, já que, em épocas anteriores tinha ficado sempre no Pote 3. Assim - dependendo do sorteio e das prestações da equipa - poderemos almejar a passagem à fase seguinte.

Os potes estão assim agrupados:

Pote 1
Manchester United
Chelsea
Liverpool
Barcelona
Arsenal
Olympique Lyonnais
Internazionale Milano
Real Madrid

Pote 2
Bayern München
PSV Eindhoven
Villarreal
Roma
porto
Werder Bremen
Sporting Clube de Portugal
Juventus

Pote 3
Olympique de Marseille
Zenit
Steaua Bucureşti
Panathinaikos
Bordeaux

Celtic
Basel
Fenerbahçe


Pote 4
Shakhtar Donetsk
Fiorentina
Atlético de Madrid
Dynamo Kyiv
Cluj
Aalborg
BK
Anorthosis Famagusta
BATE Borisov


No pote 1 pouco há a escolher. As minhas preferências vão para o Real Madrid e Inter.
No pote 3 é de evitar o Marselha e o Zenit. Basel seria a minha escolha, para vingar a derrota de ontem do Vitória.
No pote 4 a minha escolha passa por qualquer um que não seja a Fiorentina e o Atlhetic.

Mais valia terem ficado em Lisboa...

... para não irem fazer figuras tristes.
... para prepararem o jogo de Braga.

Porquê aceitarem jogar frente ao Madrid numa altura destas? Que benefícios - além dos financeiros - retirámos deste jogo?

Estava-se mesmo a ver o que isto ia dar. Ir rodar jogadores logo frente ao poderoso Madrid? Sõ mesmo na cebeça de alguns iluminados.

Espero que não as traga repercusões negativas sobre a equipa.

PS : Gostava de apanhar o Real Madrid, mas na Champions.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Para onde caminha este blog?

17:00 da tarde de hoje, chamaram-me no messenger e perguntaram-me: "o que fizeram ao Facciosos?". Assustado, larguei as férias por instantes. Pensei que o blog tivesse offline. Talvez alguém realmente justo, achasse que o nosso facciosismo tinha passado dos limites? Talvez fosse isso mas não. O que está a acontecer aqui ainda não percebi mas acredito que seja uma brincadeira de férias. Coisa de quem não tem mais nada para fazer. Não me interpretem mal. Não costumo ser velho do Restelo, mas adoro democracia. Mais do que democracia, adoro ideias com lógica ou objectivos. O blogue ganhou publicidade para quê? Quantos de nós foram consultados? Ainda assim esqueçam estas perguntas de bastidores. Os pormenores que faziam a diferença é que me deixam saudades:
  • a famosa assinatura: "sim, somos facciosos e temos orgulho nisso!!!"
  • o original final dos post: "Escrito por _______ @ hh:mm 2 comentários facciosos"
  • ausência de verde sporting!
  • nenhuma publicidade
No que me resta de férias vou ponderar a reforma. Se voltarei ao estaminé e em que condições. Monetárias claro! O publicidade vai começar a render.

Não estou a ver um post meu seguido de perto por um qualquer banner do tipo "Operação Coração revisitada. Mais sócios pró Benfica. 6 milhões ainda não são suficientes" ou "Juntem-se a nós no limpeza do sistema. Comprem Skip Verde Leonino".

Sinceramente, será que conseguimos voltar a trás e sem estragar mais?

Para quem tem saudades, coloque mas é "facciosos" na caixa de pesquisa do Google e escolham a versão "Cached".

Para onde caminha o futebol português?

Andava eu a navegar pela net quando me deparo com o site do Santa Clara dos Açores e reparo na notícia de 1ª página : 21ª Contratação para a época 2008/09! Notícia

Vinte e uma contratações??? Porra!!! Anda muita gente a ganhar as belas das comissões...

Este é apenas um exemplo da política desportiva que se vai fazendo em Portugal : Ausência de estabilidade nos plantéis, ausência de aposta nos jogadores jovens saídos das classes de formação, excesso de estrangeiros, troca constante de treinadores, entre outras situações.

Como é possível que os clubes resistam a isto?
Não admira que depois os clubes entrem em falência. No entanto, os comissionistas nunca estão em crise

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Agora é que dá uma pataleta ao Oliveira

«Vai dar faísca. Maxi Pereira e Cristian Rodríguez são amigos pessoais, colegas na selecção do Uruguai, chegaram juntos para o Benfica e, na época passada, eram vizinhos, falam até de casamentos, mas na noite do próximo sábado, no Benfica-FC Porto, vai ser como se nunca se tivessem visto na vida.»
in O Jogo

É com grande alegria que aqui se regista o "coming out" do Maxi Pereira e do Rodríguez, que admitem e assumem à imprensa que entre eles a coisa dá faísca e que até falam já de casamento. Aos nubentes deixo os meus parabéns. Onde é a boda?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Liga Profissional Futebol ?

No dia 2-8-2008, o Pedro Silva foi expulso no jogo com PSV. Como mandam as regras, ficou impedido de jogar contra o fcp para a Supertaça. Ora, após cumprir este jogo de castigo, seria de esperar que já estivesse disponível para os próximos jogos, mas acontece que o relatório não deu entrada nos serviços administrativos. Assim, pôde estar no banco no jogo contra o Trofense, mas não estará disponível para o jogo em Braga ( 1-9-2008).

Resumindo e concluindo, será castigado em um jogo mas cumprirá dois jogos de castigo.

Viva a Liga Profissional Futebol!!

PS : Liga essa que aceitou a inscrição do Boavista, apesar das dívidas fiscais, fornecedores, jogadores e treinadores. E o Hermínio Loureiro caladinha que nem um rato...

domingo, 24 de agosto de 2008

Começou

Foi jeitoso. O resultado foi animador, a exibição da primeira parte bastante razoável. Parece-me que não houve nenhum jogo na época passada em que o Sporting tivesse feito uns 30 minutos tão agradáveis e, a espaços, entusiasmantes. Não tenho muitas esperanças quanto ao título, até porque o Sporting parte, como nos últimos anos, na terceira posição da grelha de partida, distanciado em termos de orçamento, número de associados e apoios dos dois rivais. Ainda que, como se tem visto, os maiores orçamentos nem sempre correspondam a melhores classificações, a verdade é que é sempre uma condicionante de relevo. Não tenho muitas esperanças, dizia, mas eu nestas coisas sou muito parvalhão e ingénuo, e nem me importo de ficar em 2º ou 3º, desde que veja bom futebol. E este ano parece-me que vou vê-lo, "in xa' Allah".

Confesso que ainda pensei, quando aos 28 ou 29 minutos berrei golo pela 3ª vez, que íamos ter goleada das antigas. Martelei mesmo um sms desse teor a um amigo, que obviamente era extemporâneo. O sms, não o amigo. Acho. Seja como for, a verdade é que a partir daí o jogo se foi enroscando num tédio amolengado, assim ao ritmo dos cabelos compridos da brasileira à minha frente, que os esfregava (sem querer, quero crer) ritmadamente nos meus joelhos estivalmente desnudos. (Dois advérbios em mente numa mesma oração, francamente, é deprimente, mas que se lixe). Depois veio o intervalo, e o lamentável espectáculo das "cheerleaders" em coreografias escanzeladas, perante a consternação generalizada dos poucos que ficaram nas bancadas para aturarem aqueles implantes saltitões enxertados nos estádios portugueses com a mesma naturalidade com que se enxertaria uma macieira numa palmeira. Pisguei-me assim que pude.

A coisa só animou quando, já na segunda parte, o árbitro assinalou aquele penálti espantoso que mais ninguém no estádio viu, aparentemente nem o fiscal de linha. De resto a noite de hoje pode vir a fazer história na jurisprudência desportiva, se tal coisa existir: passa a haver um precedente para a marcação de penálti em faltas a uns bons dois metros da área. Confesso que ainda me passou pela cabeça rapada de fresco (e talvez pour cause) que como o rapaz da Trofa tinha aterrada na área, talvez ainda se admitisse aquela coisa de a falta poder ser começada fora, mas acabar lá dentro. Só que imediatamente me lembrei de que isso só se aplica se o jogador começar a ser agarrado fora, e continuar a ser agarrado dentro, o que, claramente, não foi o caso. O que me faz confusão é que se até para um aspirante amaricado a latinista e a arabista isto é claro como a água, lá em cima na bancada B, como é que pode ter passado em claro a um rapazola de nome evangélico que até fez um daqueles cursos de árbitros? Mais valia se calhar ter andado a fuçar no latim e no grego, fazia melhor figura. Até lhe posso desculpar o penálti perdoado aos tipos da Trofa, que passou despercebido a quase toda a gente no estádio, mas aquele penálti "a meio campo", enfim, não sei, faltam-me os adjectivos e os advérbios em mente.

Não vou, no entanto, embarcar no discurso paranóico-conspirativo - e a tentação era grande, pois ele só se enganou para um lado. O que ficou evidente na noite de hoje, em termos de arbitragem, foi que aquele cavalheiro de apito na boca, é, à semelhança da generalidade dos árbitros portugueses, incapaz e incompetente. Completamente. E isto foi só o começo. Infelizmente.

Para continuar a remoer os aspectos negativos, não gostei de verificar que ainda há alguns cripto-lampiões que assobiaram o Moutinho. Ou então estavam a assobiar a Taça que ele exibia. Nem uma coisa nem outra é de sportinguista a sério. Aliás, não sei qual será pior. Não tive oportunidade de ladrar a quem o fazia, porque o meu lugar é numa zona de sócios, e, tirando o L. F. Vieira, não deve haver mais nenhum lampião sócio do Sporting. Na minha bancada, onde só há sportinguistas, aplaudiu-se o Moutinho e a Taça.

Por fim, o melhor da festa, que foi mesmo isso: a festa. O estádio estava cheio, embora os números oficiais apontassem para pouco mais de 25000 pessoas, o que revela que algo vai mal no sistema de contagem de acessos. Esse número representaria meia casa, e até onde o meu olhar alcançava, na bancada B, não havia mais do que meia dúzia de lugares livres. O pessoal da Trofa compareceu em grande número: tirando as óbvias excepções morconas e lampiãs, além de Leixões, Setúbal e Guimarães, não me lembro de ver tanta gente acompanhar uma equipa adversária a Alvalade. Havia muitos, quer na zona atribuída aos apoiantes adversários, que enchiam por completo, quer espalhados pelo resto do estádio. E, como sempre em Alvalade, sem conflitos nem problemas. Aqui é tudo gente boa, tirando um ou outro energúmeno - acontece nas melhores famílias.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Campeonato começa hoje!

O campeonato - continuo a chamar campeonato em vez de liga - começa hoje! As expectativas são grandes por parte de todos os participantes. Uns querem ser campeões, outros ir à UEFA e os restantes lutam para não cair no abismo.

Na luta pelo título, o porto parte à frente por ter sido (tri)campeão, mas acho que há ali alguns erros de casting: Lateral direito fracote (ouvi uma entrevista do Timofte que referiu que este saponaru não era jogador para o porto), na lateral esquerda mantém-se a maldição, a substituição do Paulo Assunção ainda não foi colmatada e o "caso Quaresma".
O Sporting livrou-se dos "matrecos" e substitui-os por bons e experientes jogadores. A baliza , pela juventude dos keeepers, pode ser um problema e na frente de ataque aguardo que Liedson volte bem recuperado e que o joelho do Derlei aguente mais do que meia-dúzia de jornadas. Espero ainda que o Paulo Bento tenha descoberto uma nova forma de enfrentar os clubes pequenos.
O benfica é o folclore habitual. Muitas contratações, muito show-off, mas aquilo espremido dá numa depressão lá para Janeiro. No entanto, acho que este ano se reforçaram bem, mas não colmataram todos os problemas defensivos.

No segundo grupo, acho que o Braga tem uma belíssima equipa e pode ir longe, o Setúbal mantém-se forte, o Belém está demasiado abrasileirado e bem mais fraco, o Guimarães vai dar um grande tombo.

Os restantes apenas vão lutar para não descer, mas serão importantes nos pontos que roubem aos grandes.

Seguem agora os prognósticos ( ao contrário do outro, eu faço-os antes dos jogos).
O Sporting vai defrontar o debutante Trofense e o que se exige é vitória folgada e bom futebol. 3-0.
O porto recebe o Belém e vai vencer nas calmas. 2-0
O benfica vai a vila do conde, e como nas jornadas inicias aquilo anda tudo eufórico, empatam 1-1.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Lentius, baixius, fraquius"

"Lentius, baixius, fraquius". Pode resumir-se assim a nossa presença no JO 2008 ( e nos anteriores ).

Salvo raríssimas excepções que confirmam a regra, somos um povo que apenas liga ao futebol ( pudera! Ainda vamos temos algumas vitórias ) e que durante 4 anos não presta puto de atenção ao andebol, basquetebol, atletismo, judo, natação, esgrima, etc, etc, etc.

Não temos estruturas, não temos treinadores e não temos atletas. Somos incompetentes e pouco esforçados. Depois ainda nos admiramos das paupérrimas prestações em alta competição... Neste momento ( o Nelson ainda não triplsaltou ) temos as mesmas medalhas que o ... Vietname e menos que o Kirguistão, Mongólia, Bahrain, Zimbabué , entre outros.

Vamos nos próximos dias refilar, debater, criticar o que se passou em Pequim. Mas, começando o campeonato de Futebol, esquecemos tudo isto e só nos lembraremos destas modalidades daqui a 4 anos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Recados

«Selecção não é casa nem espectáculo com lugares marcados». A Frase é de Carlos Queiroz, e marca a primeira grande diferença em relação à era Scolari. A segunda grande diferença vem na enumeração dos critérios que presidem a uma convocatória: «Mérito, atitude, forma, qualidade técnica e potencial». Muito longe dos critérios do senhor Scolari, que nunca ninguém percebeu muito bem quais eram.

domingo, 17 de agosto de 2008

Ora assobiem lá agora

Ora assobiem lá agora, deve estar a pensar o Djaló, vaiado e assobiado várias vezes na época passada por alguns cripto-lampiões em Alvalade. O miúdo vai fazendo o que sempre fez bem: jogar e marcar. Do jogo só pude ver a primeira parte, e a espaços, pois estava num jantar (não, eu não passo a vida em jantares). Do pouco que vi pareceu-me ter sido um óptimo jogo, a defesa do Porto lá foi evitando o inevitável, e quando falhava lá estava o Xistra a dar uma ajudinha (literalmente), a aliviar um cruzamento para fora da área morcona. Rezam as crónicas que o Sporting mereceu a vitória, o que não impediu o Jesualdo de, em mais uma demonstração do seu já proverbial mau perder, falar em "felicidade" do adversário que lhe ganhou 4 dos últimos 5 jogos oficiais, os três últimos pelo mesmo resultado, os dois últimos sem discussão. Será que o facto de o Porto nos últimos 5 jogos só ter conseguido marcar 1 golo ao Sporting, no célebre livre directo na área, é só falta de sorte?

Não é importante a Super Taça, é um troféu menor, mas é sempre moralizante vencê-la diante de um rival, sobretudo tendo esse rival a categoria do Porto, dominador indiscutível do futebol português nas últimas 3 décadas. Pede-se agora que, ao contrário do que aconteceu na época passada, não se desperdice esta oportunidade para lançar a equipa numa boa campanha nacional e europeia. Seja como for, um troféu oficial já cá canta. O 4º em 2 anos, o que, não sendo perfeito, sempre é melhor do que outros que tanto gostam de se pôr em bicos de pés, mas que em mesmo período não têm nem 1 para amostra.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sempre houve novidades...

Guarda-redes: Quim (Benfica), Eduardo (Sporting Braga) e Daniel Fernandes (Bochum, Ale).

Defesas: Bosingwa (Chelsea, Esp), Paulo Ferreira (Chelsea, Esp), Ricardo Carvalho (Chelsea, Esp), Bruno Alves (FC Porto), Fernando Meira (Galatasaray, Tur), Pepe (Real Madrid, Esp) e Antunes (Lecce, Ita).

Médios: Deco (Chelsea, Ing), Raúl Meireles (FC Porto), Duda (Málaga, Esp), Carlos Martins (Benfica), João Moutinho (Sporting) e Manuel Fernandes (Valência, Esp).

Avançados: Simão (Atlético Madrid, Esp), Danny (Dinamo de Moscovo, Rus), Nani (Manchester United, Ing), Nuno Gomes (Benfica) e Hugo Almeida (Werder Bremen, Ale).

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Doping nos Jogos Olímpicos.

Assim não dá camaradas, assim, não dá!

Perder no tapete pode ser algo de honroso, mas ir ao tapete quando há doping é algo que devamos combater, especialmente no espírito olímpico

domingo, 10 de agosto de 2008

Cherchez l'arbitre!

Já aqui disse que não gosto de jogos de preparação, ou, como eufemisticamente se ouve mais, de pré-época. Apesar disso ontem fui a Alvalade ver o Sporting. Porque estou com fome de bola, porque o jogo estava incluído na Gamebox, e sobretudo para aplaudir freneticamente o Moutinho e cuspir olhos furiosos sobre os lampiões infiltrados que se atrevessem a assobiá-lo.

Este terceiro objectivo saiu-me, felizmente, defraudado. Primeiro porque, num esquecimento cheio de intenção, a constituição das equipas não foi fornecida. E não foi por problemas técnicos, de certeza: o speaker de serviço agora até regouga o tempo de compensação. Fez-me lembrar o já distante ano de 2003, quando o assobiadíssimo e lençobrancado Fernando Santos levou a que o nome do treinador deixasse de ser referido no final da constituição das equipas. O facto de se lhe ter seguido o Peseiro, mal amado entre os adeptos ainda antes do primeiro jogo, ajudou a que a curiosa omissão se mantivesse mesmo durante o consulado do popularíssimo Paulo Bento. Esperemos que com isto não se inaugure nova tradição em Alvalade. É que enquanto não se arranjar maneira de expulsar os lampiões infiltrados, haverá sempre assobios à equipa (!) e aos seus jogadores (!). Não tive, felizmente, até ao fim do jogo oportunidade para escarrar olhos indignados aos assobiadores, porque estes eram raros, e distantes do lugar onde me achava. De resto, e como estou mesmo na central, num lugar de sócios, é natural que o nível seja outro, e que não haja lampiões - tirando o Vieira do benfica não conheço mais nenhum lampião que seja sócio do Sporting. De vez em quando lá se ouvia um lampião assobio, mas foi coisa rara.

A oportunidade de ouro foi a grande penalidade. Numa atitude corajosa e arriscada, tendo em conta o passado recente da equipa, foi o Moutinho o designado para marcá-la. E aqui tiro o meu chapéu a quem tomou a decisão. É que, como diria o Mr. de La Palisse ou o Jesualdo, só havia duas hipóteses: ou o Moutinho falhava e era despedido com uma monumental vaia por parte dos lampiões, ficando os sportinguistas a sério na contingência de ter de aplaudir um falhanço para contrariar os adversários, ou concretizava, e os lampiões ficavam sem pretexto para assobios. Marcou, apesar de alguns assobios do sector lampião, nos momentos que antecederam a marcaqção, prontamente abafados pelos aplausos dos sportinguistas presentes. Aliás se dúvidas houvesse sobre a filiação clubística dos assobiadores, ontem ficaram bem evidentes: se ainda posso conceder (mas não compreender) que, num delírio inexplicável, um adepto de um clube decente assobie um seu jogador, acho que ultrapassa todos os limites do entendimento humano assobiar um jogador da própria equipa quando este se prepara para marcar uma grande penalidade. Ergo, ficou ontem provado que os assobiadores de Alvalade são cripto-lampiões.

Quanto a mim aplaudi freneticamente o rapaz, antes, durante e depois da marcação da grande penalidade, e só não o aplaudi de pé quando saiu porque gosto de manter alguma compostura, e não incomodar quem está atrás e quer ver o jogo.

Em relação ao jogo propriamente dito, um bocejo longo, longo de quase 2 horas, contando com o intervalo. Foi pena não ter levado um livro para me entreter. Isto até entrar o Postiga, claro, a partir daí o jogo ganhou novos motivos de interesse. Gostei de um alívio que fez na área adversária a um remate de um sportinguista que não consegui perceber quem era, mostrou ter categoria para central. Gostei também da classe demonstrada quando tropeçou em si mesmo e rebolou no relvado. É preciso ter nível para cair daquela maneira e levantar-se logo a seguir com aquele ar de no pasa nada.

Para a semana começa o futebol a sério.

P.S.: enquanto conduzia em direcção à praia, a meio da manhã, ia ouvindo na Antena 1 o desfiar diário dos fracassos dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos. Quando chegou à Telma Monteiro percebi que de facto ela já está completamente integrada e ambientada no clube que a recebeu quando já estava devidamente formada e credenciada: pôs as culpas da sua eliminação no árbitro.

sábado, 9 de agosto de 2008

Quaresma no Real Madrid

Notícia em primeira mão que Facciosos apurou junto de fontes não oficiais, mas que costumam mandar este tipo de bitaites:
Com a frustrada transferência de Ronaldo, a lesão grave de Sjneider e a iminente venda de Robinho para o Chelsea, é já um dado adquirido que Quaresma irá para o Real Madrid.
Os Madrilenos irão chegar-se à frente com os 30M€ pedidos pelo FCPorto, pois o seu presidente não pretende arriscar defraudar novamente os associados merengues.

Entretanto, enquanto a notícia não sai nos pasquins diários ditos da especialidade podem entreter-se com esta paródia à entrada do Benfica na Liga dos Campeões deste ano:
http://br.youtube.com/watch?v=BH8ADuPrmOw

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Vou de férias e vou feliz

Acho que chegou a minha hora de pedir uma licença sem vencimento, aqui da redacção do Facciosos.

Ao contrário dos meus colegas de trabalho, este meu part-time é remunerado. Ganho, sempre que leio as gordas sobre o Benfica. Vocês realmente enchem-nos a alma com a ficção. O faz de conta que vão fazer uma equipa cheio de craques. Tem sido assim nos últimos anos e todos nós, aqueles que realmente adoram o género vida-real-romance-drama-terror-azar-dos-outros, só temos a agradecer. Este ano, a única diferença é que a alma Benfiquista está cheia de ilusões que se avizinham consistentes. Mas será por pouco tempo. Assim que deixarem a ficção e entrarem no campo com as equipas a sério, o cenário será diferente.

Vou de férias e vou feliz. Encontrei um livro que me vai afastar dos jornais da bola. Vou instruir-me com a Karen Armstrong e o seu livro A Bíblia. Valeu a dica do Aquila que voltou a despertar em mim esta coisa de interpretar os dogmas. Confesso que há muito que percebi que o dogma das equipas de Lisboa era um castelo de cartas construído no Guincho.

No caso de "A bíblia" os dogmas são mais compreensíveis mas simultaneamente mais estimulantes. Graças a Deus.

Boas férias a todos. Prometo que continuarei a ler o facciosos no PDA, sempre que estiver na casa de banho.

Abraço a todos, leitores, facciosos e os que acumulam.

domingo, 3 de agosto de 2008

Bu?!

Não estive ontem em Alvalade, pois calhou-me estar no Porto para o casamento de um grande e querido amigo. Li e ouvi, no entanto, que o João Moutinho foi assobiado. Não estou em condições físicas nem intelectuais para grandes efusões retóricas, poupo-vos a isso. Queria apesar disso deixar aqui os meus 5 tostões sobre o assunto.

Não se bate na mãe. É feio. Muito feio. Nem para fundar um reino. Nunca. Nem quando nos remói o juízo ruminando olhaquestàfrios cansados ou a resmungar andazacomertãomales em aflições fora de tempo. Não. Nem quando nos bate à porta de casa às 8 da manhã a desfiar erasòparassabersetinhaschegadobens quando nos deitámos meia hora antes depois de uma noite daquelas que não se podem contar às mães. Nunca. Nem quando nos lança olhos de mater dolorosa e de palmas voltadas ao céu nos implora lhe demos um neto nem que seja recorrendo a barriga de aluguer. Não. Nem quando nos ensina os sobrinhos a gritar vivòbenficas ainda antes de atingirem a idade da razão (et pour cause). Nem assim. Não. Nunca. Não se bate na mãe.

Por isso não consigo entender, por mais que retorça as meninges, o que leva alguém a assobiar, apupar, vaiar, ofender a sua equipa. Por isso não consigo compreender o que leva alguém a assobiar, apupar, vaiar, ofender os jogadores da sua equipa, mesmo sendo eles incapacitados para a prática desportiva. A mim nunca ninguém me ouviu assobiar, apupar, vaiar ou ofender em Alvalade o Purovic, o Silva, o Alessandro, o Deivide, o Hugo, o Bueno, o Luís Filipe e outros do mesmo jaez. No máximo ter-me-ão ouvido uns foda-se ou uns estegajo rosnados entre dentes e acompanhados de cerrar de punhos e olhos postos na cobertura do estádio - não no céu, porque eu não acredito em deuses, nem celestes nem ctónicos.

Esta fraqueza inofensiva permite-me, pois, ter alguma tolerância para com quem se levanta e urra impropérios quando o Purovic tropeça em si mesmo e rebola na relva, ou quando o Silva, na área adversária, aliviava bolas lançadas pelo ataque do Sporting, ou quando o Hugo fazia assistências para avançados adversários ou concretizava belos auto-golos. Eu nem assim consigo ir além do supra dito foda-se silencioso.

Porque não adianta. Porque nunca vi ninguém melhorar o seu desempenho depois de lhe ofenderem a mãe ou lhe diminuirem a virilidade ou lhe difamarem a orientação sexual. E sobretudo porque nunca vi uma equipa melhorar o seu desempenho depois de vaiada por uma assobiadela dos seus próprios adeptos. Ainda que a minha formação na área da psicologia seja rudimentar, uma das coisas básicas que aprendi foi que usar reforço negativo para melhorar o desempenho, seja em que área for, é assim um bocadinho como tentar matar a sede com cubos de sal. A mim parece-me óbvio, claro como a água, mas como achava os seminários de Psicologia Educacional uma xaropada das antigas, admito que tenha adormecido em momentos importantes, e que o meu raciocínio esteja inquinado por isso.

Admito, todavia, ainda que não o faça, que se assobiem jogadores adversários, com a intenção de os enervar. O que nos leva a outra questão - se alguns adeptos assobiam com a mesma veemência adversários e atletas do seu clube, das duas uma: ou querem enervar ambos, e portanto não se percebe porque raio assobiam os "seus" jogadores, ou querem incentivar ambos, num retorcidíssimo exercícios psicológico, e então fico sem saber o que os leva a assobiarem o adversário. A não ser que pretendam com o mesmo assobio incentivar o seu atleta e enervar o adversário, o que é assim como se eu tomasse veneno dos ratos para curar a tosse ao mesmo tempo que o espalhava para matar os ditos. Enfim. Admito que sou um pouco limitado de raciocínio, e que me escapam estas subtilezas.

Admito e aplaudo, porém, que se assobiem jogadores adversários que tenham passado pelo Sporting e que tenham de alguma forma ofendido o clube por actos ou palavras. Não é comum em Alvalade, que, pelo contrário, tem por hábito aplaudir jogadores adversários que tenham passado por Alvalade, mesmo jogadores pouco relevantes. Quem vai a Alvalade sabe que é normal antigos jogadores do Sporting serem aplaudidos, às vezes com entusiasmo, quando são substituídos ou quando entram. Só quem não percebe o que é fair-play pode estranhar. Assobiados e vaiados assim de repente só me lembro do Simão "Devo tudo ao meu Sporting" e do Quaresma.

Assobiar e apupar jogadores que sairam do clube *e* cuspiram no prato onde comeram, cujo exemplo mais acabado é o do Simão, não me parece mal.

Assobiar e apupar jogadores que sairam do clube porque lhes ofereceram melhores condições noutro lado mas que continuam a respeitar o antigo clube - seja ele qual for - parecer-me-ia inqualificável, se não fosse pueril, estúpido e digno de um troglodita. Assobiar e apupar jogadores que não sairam do clube, que não ofenderam em nada o clube, que se dedicaram sempre de corpo e alma ao clube, que se tornaram símbolos do clube - apenas porque disseram que pretendiam sair, presumivelmente para melhorar a situação financeira e profissional, a mim parece-me, bom, não sei, é difícil encontrar palavras. Pueril não chega. Estúpido é pouco. Troglodita é eufemístico. Inqualificável talvez seja a melhor palavra.

O João Moutinho fez bem em vir para os "média" (*) dizer que queria sair? Não. Prejudicou-se a si mesmo, fragilizando quer a sua imagem, quer a sua posição no balenário e na equipa, quer a sua posição negocial. Fez bem em dizê-lo na véspera de um jogo? Não. Pode ter desestabilizado o balneário (que ainda assim chegou para arrumar tranquilamente o adversário megalo-milionário). Deve sair de um clube que joga para o título e vai na terceira presença consecutiva fase de grupos da Liga dos Campeões, em favor de um clube pouco relevante da liga inglesa? Não, mas é problema dele, além de uma inacreditável burrice estratégica.

Mas, e citando de cor um artigo d'A Bola que folheei enquanto arrotava a regalada morcela de arroz (**) do baptizado dos meus sobrinhos (***), que tão grandes amargos de boca me vai trazer quando vir a balança a vergar mais do que deve para o lado direito, eu pergunto: o rapaz em algum momento disse que não gostava de estar no Sporting? Disse em algum momento que não se ia dedicar como sempre se dedicou, caso, como tudo indica, não se fosse embora? Demonstrou, em algum momento, falta de respeito pelo clube ou pelos seus adeptos (e não, dizer que quer sair não é falta de respeito, se do outro lado lhe oferecem melhores condições)?

Não, não, e não. Nunca disse que não gostava de estar no Sporting. Nunca disse que caso ficasse não se ia dedicar como sempre. Nunca, em momento algum, faltou ao respeito ao clube ou aos adeptos. Disse apenas que, por motivos pessoais que entretanto se tornaram públicos e que, frisou, nada tinham que ver com o clube, precisava de sair. E estes mesmos adeptos que receberam de vendidos braços abertos o Jardel depois de este ter desrespeitado de todas as formas possíveis o clube agora assobiam e apupam um miúdo que, recordemos, não só nunca desrespeitou o clube, como o tem honrado e servido com uma dedicação e profissionalismo raros de achar no futebol actual, a ponto de ser respeitado e elogiado até pelos tradicionais rivais do Sporting. Apesar disso, assobiaram-no e apuparam-no, como assobiaram e apuparam (com justiça) em outras ocasiões o Simão.

Dir-me-ão que a reacção dos adeptos - adeptos? Não, adeptos não assobiam os seus melhores jogadores - dir-me-ão que a reacção de alguns dos presentes ontem em Alvalade se deveu precisamente ao sentimento de desilusão perante a surpreendente intenção revelada pelo Moutinho. Ora bolas, então agora apupa-se, assobia-se e ofende-se quem, sem nos ofender nem desrespeitar, nos desilude de alguma forma? Imagine-se que, depois de verificar a excelência latina do nosso amigo aquilino desde as primeiras aulas, eu tinha reagido da mesma forma que estes senhores ao saber que o meu dilecto aluno era lampião. Tolerar-se-ia que eu tivesse saltado de trás da secretária e tivesse começado a assobiar e a urrar bu bu bu? Que de cada vez que o nosso Aquila entrasse na sala eu lhe lançasse os papéis e os livros à cabeça? Berrava e urrava e grunhia sempre que ele abrisse a boca? Que faria eu então se fosse como esses senhores e se ele me tivesse vindo dizer que o meu horário não lhe dava jeito e que por motivos pessoais tinha de ir latinar para outra freguesia? Esfregava-lhe o apagador na cara?

Não, dirão, seria louco se o fizesse. Mas foi precisamente isso que aqueles senhores fizeram. Acharam feio que o rapaz , sem em momento nenhum ter faltado ao respeito ao clube ou aos adeptos, tivesse dito que precisava de sair? Admitamos que sim. E o que eles fizeram, foi bonito? Não menos do que se eu tivesse assobiado, berrado, urrado e grunhido se o meu caríssimo Aquila tivesse vindo ter comigo no fim de uma aula e me tivesse dito que ia mudar de turma por motivos que nada tinham que ver comigo.

E eu só posso supor uma coisa: que não eram adeptos sportinguistas. Que eram lampiões inflitrados. Porque só a adeptos adversários passaria pela cabeça assobiar, apupar e ofender um dos melhores jogadores da equipa - se não o melhor - apenas porque o rapaz disse, sem ofender nem enxovalhar nem faltar ao respeito a nada nem a ninguém, que, por motivos pessoais alheios ao Sporting, tinha de sair do clube e melhor assim a sua situação profissional.

É que bater na mãe é feio. Sempre. Mesmo quando nos desilude ou aborrece. E ao nosso clube e aos seus jogadores, quando o honram e respeitam, devemos respeito e honra. Não como devemos à nossa mãe, mas como devemos a tudo o que amamos. E aqueles senhores claramente não amam o Sporting.

Vou dormir que o meu mal é sono.


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(*) É latim, não é inglês, deve-se pronunciar com "é".
(**) Alusão inevitável à boa comida.
(***) Sim, casamento ontem no Porto e baptizado hoje, aqui na moirama.