Tenho tentado contribuir para a educação dos meus sobrinhos, nascidos em finais de 2005 e de 2006, e que passam comigo a maior parte do tempo (1). Ao pé de mim não se ouve nenhuma dessas coisas popularuchas, tipo rock ou pop ou o raio que os parta. Só J. S. Bach, Monteverdi e amigos. Televisão, só desenhos animados de qualidade, e DVD só se for a óperas de Mozart, concedendo apenas, excepcionalmente, a DVD de canções infantis de qualidade. Tomam banho de livros todos os dias, e o meu sobrinho até gosta de trepar as estantes do meu escritório, como se fosse um alpinista. Ouvem histórias infantis de qualidade superior apenas, ou literatura adulta (eles preocupam-se, ainda, mais com o som do que com o conteúdo). Já lhes li Joyce, Borges, Pessoa, o Alcorão, sempre no original. E eles gostam, porque lá está, o que lhes interessa é a sonoridade. Os nossos passeios são ora ao parque, ora a livrarias e bibliotecas.
Tem resultado praticamente em tudo. A única maneira de os sossegar é pôr a tocar a Flauta Mágica, sobretudo o famoso dueto do Papageno e da Papagena, ou a ária da Rainha da Noite. O desenho animado preferido do miúdo, que me obriga a ver em sessões contínuas, é o óscar de animação 2008, um filme polaco que subverte o famoso Pedro e o Lobo de Prokófiev. Fazem birras com choro violento se não os levo todos os dias a uma livraria ou à biblioteca, e já percebi que adoram ouvir Joyce - em inglês, claro, se se pode chamar inglês àquilo. Já entendem pequenas frases em árabe, e estou a começar com o latim (2).
Uma coisa, porém, continua a falhar: são ambos lampiões contumazes e relapsos, por mais que me indigne com opção tão rasteira. Dizem que o leão do Sporting faz "miau miau" e outras aleivosias do mesmo calibre. O meu cunhado instruiu-os, nada a fazer. Eu sei que com tão intensa exposição a produtos de alta cultura acabarão por ver a Verdade Verde, mas até lá...
Hoje, porém, o miúdo (2 anos e meio) deu-me a primeira alegria futebolística: enquanto via os morcões no estádio do Morcão a festejar o campeonato, disse com ar de desprezo "parecem cabeçudos". E eu, com uma lágrima de emoção, disse "parecem sim, habîbî, parecem sim, e são mesmo".
Uma coisa, porém, continua a falhar: são ambos lampiões contumazes e relapsos, por mais que me indigne com opção tão rasteira. Dizem que o leão do Sporting faz "miau miau" e outras aleivosias do mesmo calibre. O meu cunhado instruiu-os, nada a fazer. Eu sei que com tão intensa exposição a produtos de alta cultura acabarão por ver a Verdade Verde, mas até lá...
Hoje, porém, o miúdo (2 anos e meio) deu-me a primeira alegria futebolística: enquanto via os morcões no estádio do Morcão a festejar o campeonato, disse com ar de desprezo "parecem cabeçudos". E eu, com uma lágrima de emoção, disse "parecem sim, habîbî, parecem sim, e são mesmo".
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(1) Sim, já estou a pôr de parte dinheiro para lhes pagar a psicoterapia para o resto da vida.
(2) Vide nota anterior.
1 comentário:
Adorei estas divagações culturais com os "piquenos" mas, quando a companhia permanente é contrária, não há nada a fazer. Ou antes, há... leva-os ao Estádio de Alvalade quando o Sporting começar a jogar bem, OK?
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