Catalunya triomfant,
tornarà a ser rica i plena.
Endarrera aquesta gent
tan ufana i tan superba.
…
(Hino da Catalunha)
tornarà a ser rica i plena.
Endarrera aquesta gent
tan ufana i tan superba.
…
(Hino da Catalunha)
Quando se diz que “o Porto é uma nação” esquece-se de que nação a sério é a Catalunha, com língua, cultura e história próprias, e o Barça é o seu representantes máximo. E não estou a falar de futebol. Comparar o bairrismo portuense, legítimo mas não menos provinciano por isso, com o nacionalismo catalão, alicerçado, repito, em língua, cultura e história próprias, só revela pouco conhecimento da realidade espanhola no que respeita às diferentes nacionalidades que a compõem. Mais do que uma equipa de futebol, o Barça é o grande embaixador do nacionalismo catalão, como se viu recentemente na final da Taça do Rei, onde os seus adeptos – juntamente com os adeptos do Athletic, o equivalente basco – vaiaram e assobiaram o hino espanhol.
Assim, como todas as vitórias do Barça, a desta noite é não uma vitória espanhola, mas uma vitória da Catalunha, simbolizada nas inúmeras bandeiras catalãs do Olímpico de Roma, e na bandeira catalã que o Piqué tem ao pescoço quando a taça é levantada (que só por distracção pode ser confundida com a espanhola, apesar de as cores serem parecidas) e, antes disso, na conferência de imprensa que antecedeu o jogo, onde Guardiola fez questão de falar em catalão (e numa língua que de início me pareceu basco, mas afinal era inglês mesmo). O mesmo Guardiola que gostava de dizer que “la meva selecció ets el Barça” (a minha selecção é o Barça).
A história da Catalunha está, além disso, intimamente ligada à de Portugal, nomeadamente à Restauração de 1640. Na verdade, o êxito da revolta portuguesa só foi possível porque poucos meses antes a Catalunha se tinha levantado contra os espanhóis. Ambas as revoltas, a portuguesa e a catalã, foram prestavelmente patrocinadas pela França, que se envolvia numa guerra sem quartel contra Espanha, no contexto da Guerra dos 30 Anos, e a quem interessava desestabilizar eternamente o inimigo. Aproveitando a deslocação de efectivos militares espanhóis para a Catalunha, foi relativamente fácil aos apoiantes do Duque de Bragança levarem a bom termo a revolta. E, claro, ajudou muito o facto de Filipe IV ter sido forçado a optar entre Portugal e Catalunha, não podendo acudir aos dois lados ao mesmo tempo. Assim optou, obviamente, pela Catalunha, e só quando a conseguiu pacificar, em 1652, e sobretudo com o fim da guerra com a França, em 1659, é que decidiu avançar em força para Portugal. Demasiado tarde. Quase 20 anos apenas com escaramuças fronteiriças e uma batalha importante, em 1644, na localidade espanhola de Montijo, Portugal tinha tido mais que tempo para se reorganizar, e vencer categoricamente as outras 4 grandes batalhas, e ficar em posição de força para a assinatura da paz em 1668. Os apoiantes da Restauração, de resto, bem cedo reconheceram o papel fundamental da Catalunha, como já dizia o Pe. António Vieira no Sermão dos Bons Anos (1 de Janeiro de 1642):
E já chega de cultura, que hoje é dia de festa. Visca el Barça! Visca Catalunya!
P.S.: o actual hino da Catalunha, de que coloquei no início os primeiros versos, é parte de um texto do século XVIII que relata, precisamente, a revolta de 1640. As partes mais sangrentas e anti-espanholas não são cantadas hoje.
Assim, como todas as vitórias do Barça, a desta noite é não uma vitória espanhola, mas uma vitória da Catalunha, simbolizada nas inúmeras bandeiras catalãs do Olímpico de Roma, e na bandeira catalã que o Piqué tem ao pescoço quando a taça é levantada (que só por distracção pode ser confundida com a espanhola, apesar de as cores serem parecidas) e, antes disso, na conferência de imprensa que antecedeu o jogo, onde Guardiola fez questão de falar em catalão (e numa língua que de início me pareceu basco, mas afinal era inglês mesmo). O mesmo Guardiola que gostava de dizer que “la meva selecció ets el Barça” (a minha selecção é o Barça).
A história da Catalunha está, além disso, intimamente ligada à de Portugal, nomeadamente à Restauração de 1640. Na verdade, o êxito da revolta portuguesa só foi possível porque poucos meses antes a Catalunha se tinha levantado contra os espanhóis. Ambas as revoltas, a portuguesa e a catalã, foram prestavelmente patrocinadas pela França, que se envolvia numa guerra sem quartel contra Espanha, no contexto da Guerra dos 30 Anos, e a quem interessava desestabilizar eternamente o inimigo. Aproveitando a deslocação de efectivos militares espanhóis para a Catalunha, foi relativamente fácil aos apoiantes do Duque de Bragança levarem a bom termo a revolta. E, claro, ajudou muito o facto de Filipe IV ter sido forçado a optar entre Portugal e Catalunha, não podendo acudir aos dois lados ao mesmo tempo. Assim optou, obviamente, pela Catalunha, e só quando a conseguiu pacificar, em 1652, e sobretudo com o fim da guerra com a França, em 1659, é que decidiu avançar em força para Portugal. Demasiado tarde. Quase 20 anos apenas com escaramuças fronteiriças e uma batalha importante, em 1644, na localidade espanhola de Montijo, Portugal tinha tido mais que tempo para se reorganizar, e vencer categoricamente as outras 4 grandes batalhas, e ficar em posição de força para a assinatura da paz em 1668. Os apoiantes da Restauração, de resto, bem cedo reconheceram o papel fundamental da Catalunha, como já dizia o Pe. António Vieira no Sermão dos Bons Anos (1 de Janeiro de 1642):
“Se Portugal se levantara enquanto Castela estava vitoriosa, ou, quando menos, enquanto estava pacífica, segundo o miserável estado em que nos tinham posto, era a empresa mui arriscada. Eram os dias críticos e perigosos; mas como a Providência Divina cuidava tão particularmente de nosso bem, por isso ordenou que se dilatasse nossa restauração tanto tempo, e que se esperasse a ocasião oportuna do ano de quarenta, em que Castela estava tão embaraçada com inimigos, tão apertada com guerras de dentro e de fora; para que, na diversão de suas impossibilidades, se lograsse mais segura a nossa resolução. Dilatou-se o remédio, mas segurou-se o perigo. Quando os Filisteus se quiseram levantar contra Sansão, aguardaram a que Dalila lhe tivesse presas e atadas as mãos, e então deram sobre ele. Assim o fizeram os Portugueses bem advertidos. Aguardaram a que Catalunha atasse as mãos ao Sansão que os oprimia, e como o tiveram assim embaraçado e preso. então se levantaram contra ele tão oportuna como venturosamente.”
E já chega de cultura, que hoje é dia de festa. Visca el Barça! Visca Catalunya!
P.S.: o actual hino da Catalunha, de que coloquei no início os primeiros versos, é parte de um texto do século XVIII que relata, precisamente, a revolta de 1640. As partes mais sangrentas e anti-espanholas não são cantadas hoje.
Sem comentários:
Enviar um comentário