quinta-feira, 10 de julho de 2008

O código

"O Jogo" faz hoje primeira página com mais um belo jogo de palavras futeboleiro: "O código de Quique". Mas o problema não está aí. Habituados a jogos de palavras previsíveis, muitas vezes metidos a martelo, estamos todos. O problema são as quatro frases que pretendem apresentar os métodos de trabalho do Lampião Flores.
  • "Obcecado com o peso dos jogadores"
    Embora seja uma preocupação mais própria de modelo anoréctica, esta ainda consigo compreender que seja considerada novidade, em Portugal. Depois de ver lontras como o Silva ou o Rochemback a rebolar os refegos e os triplos queixos em Alvalade, também a mim às vezes me apetecia entrar pelo balneário adentro de balança em punho.

  • "Adepto da pontualidade"
    Obviamente. Isto não devia ser novidade. Muita da apagada e vil tristeza em que este país se arrasta há gerações tem que ver com este desrespeito pelos outros que é a falta de pontualidade. Eu não sou patrioteiro, e nacionalista nempensardeusmelivre, mas fico sempre bastante embaraçado quando nas reuniões na faculdade à hora marcada estou lá eu e os ingleses e os alemães. Os portugas vão chegando pachorrentamente. Estes ingleses e alemães por viverem cá já estão habituados. O pior é como aconteceu ainda há pouco tempo, numa conferência dada por um belga flamengo, na faculdade de letras. Cinco minutos antes da hora estava eu, e estavam os belgas e holandeses praticamente todos. À hora marcada estavam os belgas e holandeses todos. Alguns tugas começaram a chegar ao quarto de hora, queixando-se do trânsito que, curiosamente, não afectou nem os belgas, nem os holandeses nem a mim. A maioria começou a chegar à meia hora, e a co-organizadora da conferência chegou aos 45 minutos. Uma vergonha, sublinhada pelo "Porturral" que a todo o momento se ouvia nas conversas irritadas de flamengos e holandeses. Por isso infelizmente também o ser adepto da pontualidade é novidade digna de notícia.

  • "Repete um exercício até à perfeição"
    Mas não é essa a ideia? Não devia ser sempre assim? Para isto ser notícia, então alguma coisa vai mesmo muito mal no futebol português. E na sociedade portuguesa em geral.

  • "Trata os jogadores por tu"
    É natural. Ele vem de um país onde estas mariquices do "você", as reverências asiáticas do "vossa exclência", os salamaleques arábicos do "senhor doutor" estão confinados a situações muito restritas. Confesso que até a mim me espantou, quando comecei a ir a eventos académicos em Espanha, ouvir aqueles monstros sagrados da filologia clássica a tratarem-me por "tu", habituado que estava aos cerimoniosos "sr. doutor", aos orientalizantes "o senhor". Mas o que me espanta mesmo a sério é que o facto de o Lampião Flores (digam lá que não fica giro, Lampião Flores) tratar os jogadores por "tu" seja novidade. Eu pensava que estas mariquices do "senhor" não entrassem nos balneários de futebol. Pelos vistos entram, a ponto de ser notícia um treinador jovem tratar por "tu" os jogadores de futebol que dirige.
Só para não dizerem que eu só digo mal dos lampiões. Mas não se habituem, isto foi uma vez sem exemplo.

3 comentários:

Stromp disse...

Todos os anos a história repete-se. Os novos treinadores é que são exigentes (nos horários, nos treinos e na disciplina ), têm tácticas perfeitas (vão treinar vários modelos de jogo) e vão ter sucesso.

Com os jogadores é a mesma coisa. Quem não se lembra do histerismo da chegada do Cardozo, Addu (não precisamos do simão, temos addu), Di Maria ao aeroporto?

O povo delira. O problema é quando caiem na realidade.

Mas, essa última tirada "Tratar os jogadores por tu" é de uma imbecilidade jornalística total. Desde quando é que se tratam os jogadores por você??? Patético...

(mas interessa é que o povão engula estas tretas)

Filipe Pereira disse...

Sem qualquer tipo de segundas intenções e muito sinceramente, parece-me que este quique veio para deixar marca. Pelo menos, são notórias as diferenças de estilo e personalidade com os anteriores treinadores do Benfica. E não estou a referir-me a Chalana.

Se o Rui Costa conseguir efectivamente tapar as incursões do Luis Filipe Vieira, nos balneários e no futebol, acredito que o Benfica será diferente, para melhor.

Se isso acontecer, teremos todos muito mais respeito pelos lampiões que jogam.

André . أندراوس البرجي disse...

Ah bom, estava a ficar preocupado, achava que era só eu que estranhava os treinadores tratarem os jogadores por "você". Mas como eu futebol é só de bancada e sofá, ainda que tenha um primo que jogou no benfica (ainda estou a fazer terapia por causa disso), fiquei na dúvida.