Julgo que este foi o estado de espírito com que o Jesualdo encarou o escalonamento dos jogadores para a final da taça: "Eu já sou campeão". Confesso que esse também foi o espírito que me levou a pagar mais um bilhete para o meu João de 4 anos. À medida que o jogo avançou, comecei a tentar habituar-me ao estádio e tive de acrescentar "e o estádio é uma merda".
Deixem-me atirar para aqui umas perguntas sobre este estádio do Jamor. Umas perguntinhas para quem já lá foi e que servem de alertas para quem ainda lá queira ir.
- Já roçaram a pele na merda dos bancos de fibra de vidro? Foi coceira minha ou aquilo é um desleixo de quem gastou mal o dinheiro dos meus impostos?
- Já lá foram num dia de chuva com uma criança pequena?
- Já tentaram mijar nos wc dos topos, sem que as cataratas dos urinóis vos molhe a cueca ou a parte de cima das meias?
- Já tentaram passar entre os bancos numa fila cheia de gente sem pisar nenhum dos vizinhos?
- e se um desses vizinhos for uma sujeita mamalhuda, conseguiriam passar sem lhe sentirem as amígdalas ou os picos da europa?
Achar que o Jamor é a tradição, e não fazerem nada para melhorar este estado lastimoso, é uma vergonha e uma incompetência! Sempre pensei que era exagero do Pinto da Costa, chamar àquela gamela o estádio municipal de Oeiras. Só um velho do Restelo cego, pode preferir este estádio ao estádio do Moscavide.
O que vale é que a malta tentou esquecer as contrariedades e virou-se para dentro do rectângulo.
O meu filho estava em pulgas e eu renitente. Quem será que vai jogar à esquerda e tentar remendar esta equipa, para que o meu herdeiro pudesse entrar com o pé direito no seu destino portista?
E logo ontem, o professor foi inventar! Não compreendo que não se tenha feito os possíveis e os impossíveis para contar com o Bosingwa. Depois de o ver a chorar, no final do jogo, não acredito que tenha sido ele a pedir para não jogar. Uma história mal contada.
Uma vez sem Bosingwa para a direita, o Jesualdo resolveu-se pelo Fucile no lugar para o qual foi contrato e improvisou o "bunda pesada" do dragão para o lado esquerdo. Um verdadeiro lento, este João Paulo. E se ele é lento em qualquer parte do campo, imaginem no lado esquerdo. O rapaz nem sabia o que fazer ao corpo. Virar-se para a laterar? Jogar com o pé esquerdo?
Deu dó ver o João a sofrer. E já não falo desse João Paulo. Falo antes e novamente do meu filho, que sofreu de admiração por tanta caralhada que vinha dos meus vizinhos de trás. Passado uns minutos, respondeu-lhes: "tenham calma, não digam asneiras". De seguida, lançou a pergunta ao avô: "Porque é que o árbitro é um palhaço?". Tive de ajudar o meu pai a explicar-lhe que de vez em quando, somos obrigados a chamar "de palhaço" e outras coisas mais cabeludas, aos senhores que estavam de bordeaux. "Mas ao mesmo tempo, meu filho, temos de respeitar a autoridade", continuei. "Mas os árbitros não são autoridade" terminou o meu pai. O miúdo não percebeu a nossa dualidade. Mas também é novo e ainda, nem se quer, tem autorização para dizer "carago".
Ver o Porto a arrastar-se, asneira atrás de asneira, foi doloroso. Ver o dualidade de critérios do árbitro foi enervante. Ver os lagartos ganharem com uma tremenda ajuda, na globalidade dos lances polémicos, foi uma ironia servida fria. Com tanto calimero a bobinar, ano após ano, as orelhas do futebol português, só podia resultar nisto: na solidariedade dos senhores do apito na altura de apitar. Do outro lado, o espectro do apita final, só os podia condicionar: "deixem cá apitar contra, e não dar aso a polémicas".
Um belo dia. Uma porcaria de estádio. Um jogo ameno. Um árbitro caseiro. Um equipa mal montada. Uma derrota que castiga a falta de empenho dos campeões nacionais: a melhor equipa portuguesa.
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