quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Capas

A bem da coerência, tenho de despir por momentos o facciosismo, por muito que me custe. Muita bílis tem sido aqui derramada, muita dela por mim, contra a redacção d'A Bola, jornal oficioso do benfica, que ignora quaisquer critérios jornalísticos para fazer as suas primeiras páginas. Se tem de escolher entre um súbito ataque de aerofagia durante um treino lampião e uma importante notícia desportiva, A Bola não hesita, e é um vermelhusco arroto que ilustra a capa, de preferência com direito a pormenores relativos à consistência e cheiro dos eventuais fluidos anexos. Não exagero. Lembro-me muito bem de uma célebre primeira página, salvo erro em 2002, com uma radiografia de uma perna de um jogador lampião.

O disparate e o completo desprezo pelos critérios mais básicos da relevância jornalística não são, infelizmente, exclusivos do jornal oficioso do benfica. A primeira página do Record de hoje é um péssimo exemplo daquilo contra o que eu e o Sportinguista nos temos aqui rebelado ultimamente, mas desta vez é o Sporting o instrumento da ganância das redacções - o que não deixa de ser surpreendente.
Um dia depois de o FCP ter obtido talvez o mais importante (e inesperado) resultado desta época, relançando uma carreira europeia que parecia perdida mesmo para os mais optimistas morcões, o Record decide preencher a capa com faits divers sportinguistas, estatísticas que numa imprensa séria não mereceriam mais do que, no máximo, uma pequena chamada de rodapé - e com muito boa vontade, e só mesmo se faltassem outras notícias de relevo. No entanto, o Record acha que quem merece essa discreta, quase invisível, chamada de rodapé, ao mesmo nível do resultado do Olhanense na Carslberg Cup, é a importantíssima vitória do FCP em Kiev.

A opção do Record para a primeira página de hoje poderia fazer sentido se ontem não tivesse havido jogo da Liga dos Campeões para uma equipa portuguesa. Poderia fazer sentido se não houvesse hoje jogos na Taça Uefa para equipas portuguesas. Poderia fazer sentido se não houvesse notícias de relevo para dar, e houvesse necessidade de encher com estatísticas, curiosidades, faits divers. Mas nenhuma destas condições se verifica. Por isso esta capa de hoje, por muito que me agrade a mim e a todos os sportinguistas, por muito que nos encha de orgulho, é mais um mau, mais um péssimo exemplo de como mais do que critérios jornalísticos, são critérios economicistas que governam as redacções dos jornais desportivos portugueses.

E viva o Sporting!

P.S.: a mesma edição de hoje do Record diz que o Martins dos Santos foi condenado por corrupção. Oh, que surpresa tão grande.

4 comentários:

Káká disse...

Sendo eu também Sportinguista concordo totalmente com esta análise. No entanto tenho de alertar que o Record tem (ou pelo menos tinha) uma capa diferente para o Norte, e provavelmente aí deram mais destaque ao Porto. É que o FCP quer queiram quer não continua a ser um clube regional em que a sua expressão no sul continua a ser diminuta comparada com a do Sporting e Benfica no norte ...

CodeWiz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CodeWiz disse...

Concordo com a análise feita. Acredito na falta de qualidade dos jornais desportivos e nas suas respectivas filiações, mas não acho que seja apenas A Bola a entrar nesse mercantilismo.
Repara André, que o nosso Torreense perdeu ontem contra o SLBenfica na Liga Intercalar com um golo do Mantorras e a capa d'A Bola não noticia o facto :-)

Káká disse...

Já somos 3 Torrienses então ...